segunda-feira, 7 de abril de 2008

Uma mente brilhante que não se omite

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Carta da Profa. Elizabeth Tala, em sua passagem para a aposentadoria (foi lida em uma homenagem a ela, no IB, na sexta-feira passada). Aposentadoria formal, pois permanecerá ativamente conosco durante muito tempo!

Ao Departamento de Biologia Celular

Esta homenagem me motivou a analisar o significado do trabalho que hoje é tão onipresente, que se confunde com a nossa própria vida.

De fato, é com a identidade profissional que o indivíduo se reconhece e é reconhecido como ocupante de um lugar na engrenagem social moderna.

Desta importância conferida ao trabalho e ao trabalhador emergiu, no nosso idioma, o vocábulo “aposentadoria” que etimologicamente é “recolhimento ao interior da habitação, aos aposentos”. A minha aposentadoria me confere agora uma nova e assustadora qualidade : “inativo”

Independente de tudo isso, gostaria de declarar que esta homenagem de hoje é valiosíssima para mim, por muitos motivos sendo o principal o fato de vir pessoas com quem convivi por muitos anos e de quem gosto muito. Além disso, é uma homenagem de funcionários e professores–pesquisadores de uma das melhores universidades do Brasil.

Quando penso nas ações e também nas intenções da profissão ou do trabalho exercido por um professor-doutor, vejo um cotidiano que mais parece uma saga épica. O dia a dia de um docente-pesquisador tornou-se uma luta de titãs competindo. Competição esta não no sentido de sermos melhores que os outros, mas no sentido de nos aproximarmos dos melhores.

Assim lutamos bravamente para publicarmos em revista de qualidade para nos aproximarmos dos melhores, lutamos bravamente para publicarmos em número significativo como os melhores o fazem, lutamos para que os conhecimentos gerados por nossa pesquisa sejam reconhecidos e citados muitas e muitas vezes, como muitos conseguem, enfim é uma luta constante na busca da excelência científica e que, consequentemente transportamos para o nosso modo de ensinar com qualidade.

Faz parte da minha nova condição de “inativo” maior tempo para leitura e, no contexto qualidade, descobri a definição de Aristóteles para a excelência, como sendo uma habilidade conquistada por treinamento e prática. Para o filósofo grego, somos aquilo que fazemos com freqüência. E unindo estes dois pensamentos conclui que a Excelência, que buscamos em nossa vida de docente e pesquisador, pode ser considerada não como um ato, mas como um hábito.

È interessante notar que construímos a excelência em cada uma das nossas obrigações apesar dos ameaçadores apagões, dos pulmões impregnados da fumaça de subterrâneos mal cuidados do nosso ICC, da exaustão em seguir sempre em frente na busca de financiamentos e fomentos, e das reuniões, e reuniões e reuniões, nem sempre produtivas...

Durante o percurso, enquanto buscamos a tão nobre excelência, ainda conseguimos ser éticos.

Impressionantemente éticos!

Somos éticos em nosso interior, em nossa pesquisa, com nossos alunos, com colegas, com funcionários.

E neste contexto me surpreende a complacência com a falta de ética, como na compra inexplicável de mobiliário de alto custo, ao preço de tão necessitados e imprescindíveis transformadores, os quais não apenas são garantias da integridade do material de pesquisa, mais instrumentos para abrandar nossas preocupações.

Existem sim reações contra os absurdos. Mas não são brados típicos de representantes de uma classe de titãs. A indignação é balbuciada e tímida. Eu, particularmente, nunca assinei manifesto, nunca protestei veemente, nunca ousei lançar e-mails clamando por mais ética dentro da minha própria instituição. Poderia ter feito isto em muitas ocasiões, não o fiz. Pena! Perdi oportunidades.

Mas acho que ainda tenho tempo

Existem duas teorias para a aposentadoria, uma é vista como fonte de efeitos nefastos, e a segunda como um momento de realização e possibilidade de desenvolvimento, agora pessoal. Nesta última pretendo depositar a minha identificação de “inativo”, exercer a verdadeira cidadania na vida social, familiar e política? Talvez iniciando por assinar manifestos!


Mas hoje, muito feliz, estou aqui para agradecer: a cada um dos funcionários do IB e da Celular, a cada um dos professores dos laboratórios de Enzimologia, Química de Proteínas, Microbiologia, Biologia Molecular, Microscopia Eletrônica, Biologia Teórica, e mais intimamente aos professores e funcionários do meu tão querido Lab. de Biofísica.


Do Lab. de Biofísica vou levar as lembranças da cumplicidade incomparável da Profa Egle, do coleguismo da Profa. Sonia e Prof. Fernando, da inquietante valentia do prof. Marcelo Hermes, da fidelidade do nosso Chiquinho, e claro daqueles que já não estão na Instituição mas que foram os meus mestres.


Do Lab de Biofísica levo também lembranças de histórias alegres e tristes, algumas vividas com a inesquecível profa. Maristela, lembranças da árdua aquisição de equipamentos, de divisórias, lembranças dos cheiros e até das antigas, e fiéis goteiras, cuja localização tão bem identifico até hoje.


Finalizo com o meu “muito obrigada” que vêm do reconhecimento sincero de que a construção da minha realização profissional ao longo destes anos só foi possível com contribuição e tolerância, sim a tolerância cotidiana de cada um de vocês. E no meu abraço ao nosso querido Felix transfiro a cada um aqui presente o meu eterno carinho. Obrigada. (04/04/2008)

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Profa. Elisabeth, pela etapa tão brilhantemente cumprida.
De um seu ex-colega do Ensino Médio (CIEM)

Marcus Lacerda Santos (IF)

Anônimo disse...

Parabéns Beth, você merece isso e muito mais.
Do seu eterno aluno.

Leonardo Calderon