Mais uma vez o protagonismo dos mestres-estudantes fez história na UnB. A ditadura lauro-timotista - ancorada no poder material, na supressão do poder dos conselhos e colegiados e na formação de uma grande rede de distribuição discricionária de recursos, poderes, favores, privilégios e honrarias - foi derrotada. Sua desmoralização foi implacável, completa, irreversível. Em menos de duas semanas, a força avassaladora do movimento da comunidade universitária desencadeado pela ocupação estudantil e amplamente apoiado pela opinião pública abriu o caminho da construção de uma nova UnB.
Decerto que ainda há muitos obstáculos e etapas a serem superadas. Sabemos que não são pouco poderosos os que farão de tudo para preservar intactas as bases materiais e estruturais da ditadura lauro-timotista e das políticas encaminhadas pelo MEC, pelo Banco Mundial e pelo projeto histórico do capitalismo educacional - mesmo depois de elas terem ruído com a vergonhosa derrocada de Timothy, Mamya, de seu decreto ditatorial e de toda sua despótica administração superior. Mas sabemos também que vivemos dias que valem semanas, semanas que valem meses, meses que valem anos, anos que valem décadas. A queda da ditadura lauro-timotista abriu um dos momentos mais fecundos na história da UnB e da universidade pública brasileira: ela agora nos impõe o desafio de superar as estruturas corruptas e corruptoras deste modelo de universidade a fim de redefinir, reorientar e reconstruir publicamente e comunitariamente a nossa universidade. Todo o Brasil - e particularmente a universidade pública e a comunidade acadêmica - acompanham com o mais vivo interesse o processo histórico que protagonizamos na UnB. De sua crise mais profunda, abre-se a oportunidade histórica irrecusável para que a Universidade de Brasília encontre no diálogo inteligente e no embate dialético de projetos históricos o caminho de sua verdadeira autonomia e de seu sentido público, ético e socialmente orientado - que só poderá se materializar, com os mestres-estudantes, a partir da mais ampla democracia interna, paritária e auto-gestionária, o único regime político adequado à inteligência coletiva de uma comunidade do saber.
Vivemos um momento histórico na UnB. A força política, moral e espiritual do movimento desencadeado pelos mestres-estudantes, de sua ação direta, auto-determinada e auto-gestionada, de sua inteligência coletiva, é simplesmente arrebatadora. Ela e suas principais reivindicações já foram consagradas na assembléia dos servidores, aprovada por vários conselhos desta universidade e defendida pelo reitor pro-tempore, Prof. Roberto Aguiar. Ela já envolve amplamente e envolverá de forma cada vez mais arrebatadora estudantes e docentes de nossa universidade.
Os mestres-estudantes abriram o caminho para todos nós e agora nos convidam a compartilhar com eles e com os servidores de nossa UnB a obra ético-politica de criação de uma nova universidade. Nossos mestres-estudantes nos dirigem esse apelo sincero e este convite generoso, que não podemos recusar sem colocar em xeque as relações entre estudantes, funcionários e professores e. com isso, a própria universidade. A hora é de distensionar os espíritos, abrir o diálogo e desobstruir os caminhos para que possamos levar a cabo a tarefa comum de construirmos uma nova UnB. Estamos diante de uma mudança de paradigma, que representa também uma mudança de época: a UnB não poderá mais ser governada sem os estudantes e sem a mais ampla democratização interna de nossa instituição.
Nós, professores, saberemos compreender o profundo sentido humano do convite que nos dirigem nossos mestres-estudantes. O sentido socialmente orientado e essencialmente ético-político da docência nos inclina a sabiamentre acolher o convite generoso que nos fazem nossos mestres-estudantes: a consagração das Eleições Paritárias Gerais e a convocação de um Congresso Estatuinte Paritário, como próximas etapas no processo histórico de construção coletiva dos alicerces constituintes de uma nova UnB. Na assembléia da ADUnB, no chão das salas de aula, dos corredores e dos colegiados e conselhos desta universidade, na assembléia da comunidade da UnB, é chegada a hora de decidamente trilharmos os caminhos que nos permitirão construir com estudantes e servidores a auto-gestão de nossa comunidade do saber.
Rodrigo Dantas. Chefe do Departamento de Filosofia da UnB.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Carta Aberta aos Professores e à Comunidade da UnB
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