segunda-feira, 21 de abril de 2008

Paridade


Eleição na universidade

A paridade nas eleições para reitor e na gestão da Universidade de Brasília abre “avenidas”de oportunidades para novos aprendizados. O argumento de que vigilante não pode ser reitor foi usado em meados da década de 1990 para criar a regra dos 70%-15%-15%, com os professores a deter a maioria do poder de voto. O desquilíbrio levou à arrogância de todas as gestões da UnB desde então: João Cláudio Todorov, Lauro Morhy e Timothy Mulholland detiveram tanto poder — que só cresceu — que a ninguém mais, na UnB, prestavam contas. Deu no que deu. O argumento antiparitarismo é cheio de preconceitos, de aristocratismo arrogante e sem o menor fundamento. Os grandes pesquisadores de forma alguma se vêem prejudicados pelo controle cruzado da universidade por três segmentos. Como controlar a universidade? Como se diz: não há melhor desinfetante que a luz do dia. Os alunos devem nos ajudar, pois são os especiais destinatários do trabalhos dos professores. Se ninguém controla os professores, sucede-se invariavelmente a arrogância advinda de invulnerabilidade – que, por sua vez, advém dessa equivocada infalibilidade doutoral.
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Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, Brasília
(publicado no Correio Braziliense de 21/04/08).

Estudantes, cartões e UnB
(por Rubem Azevedo Lima)

"A mobilização dos estudantes ante os disparates que o reitor da UnB foi acusado de cometer contém boas lições. Embora num microcosmo da cultura e do ensino brasileiros, hoje integrado por minorias antes marginalizadas, essa foi a primeira reação ao desfalque de recursos públicos do país acolhida pelo governo. ...Não se diga que a imprensa açulou os estudantes à rebeldia. Pelo contrário: embora reconhecesse a justeza da causa estudantil dada a evidência oficial dos fatos, a mídia não deixou de criticar a ocupação da reitoria, temerosa de danos ao patrimônio público. Nada, porém, se perdeu e o que os invasores desejam, agora, é participar da escolha do novo reitor para que não lhes imponham alguém pior. Não é pedir muito. Na Grécia de Péricles, as academias eram iniciativas privadas, mas os alunos elegiam os reitores. Quando Platão deixou a sua, Speusippo, seu sobrinho, não eleito, assumiu o cargo. Até hoje, historiadores pesquisam a reação dos alunos a tal fato nas stoás, áreas protegidas da chuva e do sol, à volta da ágora de Atenas, como o minhocão, na UnB. O certo é que muitos alunos mudaram de academia. Na universidade de Brasília houve também enorme diáspora em 1964. Os jovens da UnB, mesmo à revelia da UNE, hoje contida em suas reivindicações, protestaram, principalmente, contra o desrespeito aos recursos públicos..."

Maio de 2008?
Cristovam BuarqueProfessor da UnB e senador pelo PDT do Distrito Federal (Publicado no Correio Braziliense, 21/04/08).

"...Sobre a eleição, o primeiro ponto será dar mais voz aos estudantes. Nas últimas eleições, o voto de cada professor equivalia ao voto de 90 alunos, e o de um servidor equivalia ao de nove alunos. Os alunos são os menos culpados pelos erros da administração. A próxima eleição precisa incorporá-los, seja com o voto paritário, seja com o voto universal. Nada indica que um aluno esteja menos preparado e tenha menos interesse na hora de escolher o reitor. Na verdade, eles são menos vulneráveis às promessas de campanha do que professores e servidores e não se beneficiam diretamente das vantagens pessoais que possam ser oferecidas pela administração. Nunca é demais recordar que os três primeiros reitores eleitos da UnB venceram eleições paritárias, e isso não teve nenhuma implicação negativa na gestão. Além do peso dos alunos, o processo eleitoral não deve permitir o debate de promessas para as corporações, nem para indivíduos, e deve evitar qualquer partidarização. Precisa também acabar com a possibilidade da reeleição e que ex-reitores não possam se candidatar. Seria bom que a discussão fosse fundamentalmente sobre o futuro da UnB — seus cursos, seus programas, sua estrutura, critérios de avaliação e de responsabilização. Isso será possível se a eleição se transformar em grande debate sobre o futuro da universidade brasileira e, especialmente, da UnB. Acima de tudo, a eleição deve empolgar os alunos, o que é impossível se o voto deles valer apenas migalhas. Foram eles que lideraram as mudanças dos últimos dias. .... Para isso, os alunos não podem ser menosprezados."

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