domingo, 6 de abril de 2008

ATENÇÃO! Parece ter havido um golpe na UnB!


Novas normas aprovadas em meados do ano passado concentram um poder absurdo nas mãos da reitoria, em instâncias deliberativas, fiscalizadoras e jurídicas. A estrutura colegiada da UnB está no limbo; é um mero apêndice pró-forma na estrutura da Instituição. Vejam a carta abaixo para entender melhor:

Golpe na UnB; em reposta à carta da colega Mariza Borges
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Prezada colega Mariza Borges Andrade
(clique aqui para ler a mensagem da Profa Mariza)
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Em primeiro lugar gostaria de dizer que tenho por você uma grande admiração pessoal e profissional, por sua carreira de dedicação à vida acadêmica e em defesa das lutas democráticas. Conheço-lhe desde os tempos de sua participação na Câmara de Ensino de Graduação, sei de sua seriedade. Portanto, em respeito a sua pessoa e às questões que apresenta em sua carta enviada a esta lista, sinto-me movido pelo legítimo direito à minha manifestação, numa saudável interlocução consigo e com outros que venham a acompanhar o que estamos discutindo, aqui.
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Suas perguntas são legítimas. Como estudante, em 1977 e 1978, participei ativamente da luta contra a intervenção na UnB, que acabou resultando em conquistas democráticas importantes, inclusive a eleição para reitores, com ampla participação dos três segmentos. A esse respeito, vale lembrar que as três primeiras eleições para a reitoria da UnB, depois do reitor Azevedo, eram paritárias. O que temos hoje, desde a eleição de Lauro Mohry, significou uma ruptura com aquela ordem estabelecida. Quando estudantes lutam, hoje, pela reivindicação de eleições paritárias, o fazem com o mesmo anseio democrático que motivava a luta de 1977, ou mesmo de 1968. O que você acha que fariam, hoje, os estudantes que, naquela época, lutavam pela democracia nas universidades? Eu estive, como lhe disse, em ativa participação estudantil em 1977, e entendo que o mínimo que tenho que fazer, para ser coerente com aqueles princípios que norteavam a minha conduta, é me colocar ao lado dos estudantes nessa defesa. Nesse sentido, a democracia, na UnB, hoje, em que pese conquistas importantes, precisa ser mais bem qualificada.
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A eleição para reitoria é um dos aspectos. Há muitos outros que precisam ser, urgentemente, reestabelecidos, sob o risco de nos tornarmos uma instituição refém exclusiva dos atos do reitor (que é também o presidente da FUB). Diante da gravidade do fato que passo a expor, também apelo para sua consciência democrática e ao seu passado de luta na construção de nosso estatuto, que, a meu ver, corre sérios riscos, se não agirmos com firmeza e celeridade.
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Não sei se é de seu conhecimento e dos demais que participam desta lista, mas o Conselho Diretor da FUB, em reuniões nos dias 28 de junho e 04 de julho de 2007, decidiu, mediante o decreto de número 12 de 2007, sem que tivesse passado pelo Consuni (órgão máximo de deliberação da Universidade de Brasília, que, em seu Artigo 12, parágrafo I, estabelece que a ele compete “formular as políticas globais da Universidade”), “Instituir o Programa de Modernização da Gestão da Fundação da Universidade de Brasília (FUB) com o objetivo de dar maior eficiência, agilidade e transparência ao processo de administração da Fundação e dos órgãos que a integram”.
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Visando, com essa “modernização de gestão”, atender aos seguintes princípios: I. racionalização da estrutura organizacional de órgãos e Unidades; II. eliminação da superposição de competências entre órgãos e Unidades; III. coerência entre os objetivos de órgãos e Unidades e as instâncias a que estão vinculados; IV. redução dos níveis hierárquicos até, no máximo, três níveis, incluindo o dirigente das Unidades integrantes da estrutura da Fundação Universidade de Brasília; V. reorganização e simplificação de processos e atividades; VI. adoção de estruturas flexíveis de organização do trabalho, que agilizem a execução e facilitem a comunicação nos órgãos e Unidades e entre estes.
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O mais grave de tudo é que o Artigo 4 do mesmo decreto estabelece que estarão subordinados diretamente ao Presidente da FUB (isto é, ao próprio reitor), os seguintes órgãos: a) a Procuradoria Jurídica, b) a Auditoria, c) as Agências e d) as Secretarias.
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Em resumo, trata-se de um GOLPE, repito, fomos (estudantes, docentes e técnico-administrativos) atingidos duramente em nosso Estatuto e em nossa democracia interna, com este GOLPE do Conselho Diretor, que é presidido pelo reitor, Timothy Mulholand. Só por esta razão, entendo, ele não mereceria mais nossa confiança para permanecer no cargo. E não me refiro a nada do que já está sendo objeto de apuração pelo Ministério Público e apontado na grande mídia. Com esse decreto, o reitor concentra, em suas mãos, o poder jurídico e investigatório (com a Procuradoria e a Auditoria), e, sobretudo, o poder econômico, mediante o que está sendo chamado “Agências”, no referido decreto.
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Vale lembrar que a recém criada “Agência de Desenvolvimento Institucional”, dentro da Editora – objeto de tantas denúncias pelo modo como tem atuado junto à Funsaúde, por exemplo – estaria sob a direta relação de dependência para com o reitor, se valer o decreto citado. Isto é, poderia passar por lá toda movimentação de captação e distribuição de recursos, hoje da ordem de milhões de reais, sem que nenhum de nós pudesse minimamente interferir e exercer controle democrático.
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Percebe, prezada colega, a gravidade da situação? Quem pode nos salvar desse GOLPE? Você defenderia esse decreto? Como nos defendermos disso?
Pessoalmente tenho também declarado que o Reuni não fora suficientemente discutido, dado o grau de importância e alcance, em termos das nossas atuais condições de trabalho. Foi tudo muito rápido. Não houve, naquela decisão, o necessário amadurecimento dos colegiados para formular posição mais acurada a esse respeito. Assim, mais uma vez, nosso estatuto funcionou apenas formalmente, mas não na prática.
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Ainda que nos preocupemos com eventuais aparelhamentos e instrumentalização dos segmentos e da vida institucional, por parte de partidos e outras influências, e quero dizer que também não concordo com isso, não podemos fechar os olhos e dizer que nossa realidade institucional e democrática está funcionando bem. Poucos de nós conhecem os mecanismos claros de decisão, os colegiados e como funciona a Universidade, falta transparência nas decisões (veja o fato a que me refiro, aqui, sobre o Decreto do Conselho Superior), discussão ampliada de nossos reais problemas, e tudo isso tem favorecido as últimas reitorias da UnB. Um processo de desinformação (que é confundido com a propaganda da administração superior), aliado a uma enorme apatia interna, é o que temos.
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O que vemos, hoje, com a ocupação dos estudantes, é apenas um dos sintomas de uma instituição com sérios problemas, à beira de uma crise de maiores proporções. Penso que é hora de somarmos força, todos aqueles que se dispõem a discutir seriamente o futuro e o presente de nossa instituição, quando ainda é tempo. O momento é muito mais grave que o episódio da ocupação da reitoria. Proponho que olhemos para além de nossas fronteiras ideológicas, políticas, departamentais ou mesmo pessoais.
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Compreendendo que este contexto é por demais grave. Por esta razão, não posso me ausentar desse debate, tampouco da defesa da democracia e dos valores acadêmicos de nossa universidade.
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Um abraço fraterno
Michelangelo Trigueiro

Um comentário:

Anônimo disse...

Onde está a carta da Profa. Marisa? Qual o contexto desta réplica?