quinta-feira, 12 de junho de 2008

REUNI lusitano ou nós, amanhã (depoimento de um renomado cientista da UnB)


Efeito Orloff? Lembra-se daquela propaganda da vodca Orloff, que exibia os terríveis efeitos (ressaca) depois de alguém beber uma vodca supostamente de menor qualidade? Pois é, o colega Cesar Koppe Grisólia, eminente cientista do IB, está em Pós-Doc em Portugal, onde já implantaram o "Reuni". Vejam o conteúdo da mensagem:

" Prezados colegas do IB,

(subisidios para a discussão sobre o REUNI)


Não sei a quantas andam essas dicussões no IB; entretanto,

venho por meio desse e-mail colocar uma experiencia que

estou vivendo na Universidade de Aveiro, Portugal, que

implantou o Ensino de Bologna a tres anos.

1. Não houve qualquer discussão entre os docentes. Foi

implantado de cima para baixo, uma vez que é norma da

Comunidade Europeia, e a Universidade recebeu verbas (e muita).

2. Houve massificação do processo de ensino, comprometendo a

qualidade, principalmente na aulas práticas. As turmas que

eram de trinta alunos passaram para 120. Não houve concurso

para a contratação de docentes, somente contratos temporários.

3. Há muitos estudantes brasileiros aqui na U.A. Eu almoço

no RU com eles e qdo conversamos as queixas são as

seguintes: "ainda bem que não implantaram esse sistema na

minha universidade (no Brasil) ainda", ou "qdo implantarem

isso no Brasil eu já estou fora da Universidade". "Aqui na

U.A. as aulas são muito fracas, o que vale mesmo são os

laboratórios de pesquisa e eu posso tocar bem o meu

projeto". "Mesmo assim vejo algum sentido, mas para a

Europa, não para o Brasil".

4. Toda familia, onde os pais, às duras penas sustentam um

filho na Universidade, têm a espectativa que seu filho ao

final saia com uma profissão, ou um oficio. Um aluno formado

nesse sistema, qual seria a sua profissão?

5. A criação de uma Escola Técnica Federal de nível superior

no campus da UnB, não atenderia melhor as necessidade da

nossa sociedade?

6.Até qdo nós vamos ficar copiando modelos trazidos do

exterior? Até qdo nos vamos ficar subjulgando a nossa

capacidade de criar modelos alternativos para o ensino

Universitário mais condizentes com a nossa realidade.

Cesar Koppe Grisolia

GEM/IB, UnB

Atualmente

Laboratorio de Ecotoxicologia

Departamento de Biologia

Universidade de Aveiro

Portugal.



Comentário de um membro do Coletivo UnB Livre:

Interessante a mensagem do Prof. Cesar Koppe Grisolia, com subsídios para a discussão sobre o REUNI. O Processo de Bolonha representa a implementação vertical de um projeto de intensa massificação e precarização do ensino superior. Como o REUNI, ele se dá pela via da assinatura de contratos de gestão do Estado com as universidades, com o repasse de verbas condicionado a metas globais que envolvem aumento de vagas estudantis, precarização do trabalho docente (trabalho temporário, retirada de direitos, aumento da jornada de trabalho, salas de aula cada vez mais cheias, aligeiramento do ensino, sobrecarga intensa de orientações, dissociação entre ensino, pesquisa e extensão, estratificação hierárquica cada vez maior entre os docentes, etc.), introdução de bacharelados gerais de massa que não formam para nenhuma profissão determinada e a separação cada vez maior entre os "centros de excelência" (diretamente conectados às demandas das grandes empresas nacionais/transnacionais e dos Estados nacionais) e "unidades de ensino de massa". Na prática, trata-se de aumentar o número de vagas no ensino superior (pelo aumento direto das vagas, das salas e do número de estudantes em sala, pela aprovação automática e pela diminuição da evasão, pela criação de novos cursos e pela introdução dos bachaelados gerais) sem que aumentem, na mesma escala, os recursos, a infra-estrutrua material e os docentes e servidores.

Malgrado os últimos esforços da reitoria pro tempore, a verdade, infelizmente, é que não houve tempo, nem interesse, nem espaço adequados para se discutir o REUNI na UnB e no Brasil. Sua implementação se deu a toque de caixa em todo o país, muitas vezes em meio a operações policiais. O interesse das administrações superiores em ter acesso aos recursos disponibilizados, a facilidade em se manipular os termos de um projeto de expansão diante da "opinião pública" e a propaganda de que o REUNI seria uma janela de oportunidades (acompanhada do pressuposto subliminar de que quem ficasse de fora seria definitivamente marginalizado do acesso às verbas, etc.), somada a doses de intervenção repressiva aplicadas aqui e ali quando necessário, assegurou que o REUNI fosse aprovado na maioria das IFES.
Só não podemos esquecer que entre sua aprovação e sua implementação, a última palavra ainda não foi dada.

Rodrigo Dantas. Prof. do Departamento de Filosofia da UnB




2 comentários:

Gabriele Lopes disse...

Nooossa, isso ta acontecendo aqui e agora em mais uma universidade federal, a UFOPA. O projeto reuni so degradando o ensino superior ao inves de melhorÁ-LO...cade a diminuição da evasão? cade a melhoria de ensino publico? cade os milhoes em verba?..deve EStaR parando na mão dessas reitorias e proreitorias e semelhantes...mas um fruto da corrupção.
o futuro do brasil sendo colocado em incertos projetoos inovadores.

Gabriele Lopes disse...

Nooossa, isso ta acontecendo aqui e agora em mais uma universidade federal, a UFOPA. O projeto reuni so degradando o ensino superior ao inves de melhorÁ-LO...cade a diminuição da evasão? cade a melhoria de ensino publico? cade os milhoes em verba?..deve EStaR parando na mão dessas reitorias e proreitorias e semelhantes...mas um fruto da corrupção.
o futuro do brasil sendo colocado em incertos projetoos inovadores.