quarta-feira, 21 de maio de 2008

Rodrigo Dantas responde à Elenice Hanna


"Colegas da lista da ADUnB,

a agressiva carta publicada pela profa. Elenice Hanna merece uma resposta, sobretudo porque me parece refletir, neste momento, o pensamento de muitos dos quase 400 docentes ativos (num universo de quase 1.400 docentes) que votaram na chapa 1. Diante disso, algumas questões colocadas merecem ser brevemente pontuadas.

1. É particularmente grave que a professora não demonstre qualquer indignação com a corrupção endêmica que tomou conta da UnB nestes últimos anos. Professora Elenice, todos sabemos que a investigação do MPF está em seu início e que muita coisa ainda está por ser revelada, muito além dos fatos gravíssimos já públicos e notórios. Ignorar essa realidade não passa de ato de denegação absoluta, típico de quem, em desespero de causa, perde todo o contato com a realidade para substituí-la por um discurso delirante, sustentado exclusivamente por seus próprios desejos, fantasias e interesses. É muito sintomático que, diante da maior desmoralização a que uma universidade pública já foi submetida na história deste país, a professora opte por voltar suas baterias contra a investigação que está começando a desmontar a rede clientelista de apropriação e distribuição privada e discricionária de recursos públicos em nossa universidade - e não contra o que está sendo investigado e revelado pelo MPF. A inversão dos valores e a racionalização do injustificável tem limites não só racionais, mas morais.

2. Evidentemente, professora Elenice, não foram os 408 eleitores da chapa 1 que participaram de "atos ilícitos ou de moralidade duvidosa". Esta é uma afirmação tendenciosamente retirada de contexto. Ninguém jamais disse isso. O que é inegável é que o voto na chapa 1 (com seu slogan "de volta para casa") foi claramente um voto de confiança na antiga administração e em seus chefes e caciques de sempre. Não é por outra razão que a presença de Timothy na comemoração da vitória da chapa 1 no Cavalcanti foi recebida com efusivos aplausos. Não é por outra razão que a reunião entre Lauro Morhy, Silvio Quezado, Rosalvo e Flávio Botelho, uma semana antes, no mesmo restaurante, demonstra muito claramente quem e o que está por detrás da chapa 1. Está claro que o voto na chapa 1 foi um voto de quem deseja fazer da ADUnB um bunker da reitoria deposta, uma casamata para organizar a "volta para a reitoria" - assim como o artigo despropositado que a senhora escreve aponta, sim, claramente, na mesma direção.

3. Não queremos o poder simplesmente para nos banquetearmos com seus luxos, suas delícias, seus privilégios. Não queremos o poder para expedir decretos (como o de julho de 2007) que concentrem todos os poderes na figura unipessoal do reitor, usurpando autoritariamente o poder dos conselhos e colegiados da universidade, num ataque frontal à democracia e à autonomia universitária. Quando dizemos que lutamos por uma UnB sem donos, estamos a dizer que lutaremos, com todas as nossas energias, pela mais ampla democratização, compartilhamento, transparência e horizontalização do poder - e lutamos por isso não só na UnB, mas em todas as instâncias da vida social e política do país e da própria humanidade. Não aceitamos mais um reitor monarca, sustentado por uma rede piramidal de apoio formada por métodos clientelistas. Não aceitamos a "rorizização" da UnB. Por tudo isso, não vemos outra saída para esta crise senão a auto-gestão democrática e transparente da UnB por seus conselhos e colegiados, com a colaboração plena e paritária dos três segmentos de que se compõem a comunidade universitária.

4. Designar a investigação do MPF como uma intervenção e uma afronta à autonomia universitária é imaginar a universidade como uma torre de marfim, onde todos os desmandos são permitidos, sem que a sociedade e o Estado possam investigar, mediante seus instrumentos legais, a utilização indevida e a gestão temerária dos recursos públicos. Afronta à autonomia universitária, professora Elenice, é a estrutura paralela de poder que foi montada pelo lauro-timotismo durante mais de uma década. Graças a luta ousada, corajosa e generosa dos procuradores, dos estudantes e dos servidores e professores desta universidade que não aceitam mais conviver com o que é moralmente, juridicamente e politicamente inaceitável, toda esta estrutura está com seus dias contados. Mais cedo ou mais tarde, nossa obra de transformação da universidade estará completa.

Moralmente, politicamente e intelectualmente enojado com a justificação cínica, arrogante e desavergonhada do injustificável,

Rodrigo Dantas


Encaminho o seguinte texto a pedido da colega Elenice Hanna
De: Elenice Hanna [mailto: elenicehanna@gmail.com ]
Enviada em: segunda-feira, 19 de maio de 2008 17:10
Para: Elenice Hanna
Assunto: reflexões sobre vitória da chapa 1

ANÁLISE ADICIONAIS SOBRE A VITÓRIA DA CHAPA 1

Importante a manifestação da comunidade nesse momento, especialmente daqueles que não se manifestaram "nos microfones pertencentes aos donos da verdade" e que assistiram assustados e com tristeza os acontecimentos orquestrados por uma minoria. O resultado das eleições da ADUnB merece uma análise cuidadosa e de todos os lados.
Com uma votação bastante expressiva, os docentes mostraram seu desejo. Qualquer que seja a aritmética feita por outras Chapas nenhuma superará os votos da Chapa 1. A maioria expressiva de votos na Chapa vencedora representa a vontade dos docentes de serem ouvidos e respeitados, de lutarem por melhores condições de trabalho na UnB, de prescindirem de um clima de respeito, a despeito das divergências de idéias. Votar na Chapa 1 significou nosso apoio a um grupo que se dispôs a dedicar seu tempo e o dinheiro dos sindicalizados a causas consideradas secundárias por gestões anteriores, mas urgentes para a categoria.
É preciso dizer mais sobre o que esse resultado representa? Aqueles que ainda questionam exercitem sua sensibilidade e desativem seus delírios persecutórios ou tendências de retroalimentar suas próprias verdades. Os reais motivos dessa derrota estão nos próprios discursos das outras chapas, recortados a seguir. É necessário humildade para aceitar que a realidade da maioria não é aquela que alguns tentam incutir em pessoas com um nível de funcionamento intelectual alto.
Socializo minhas reflexões relativas à rejeição a apenas uma das chapas derrotadas. Agradeço à Chapa 2 por confirmar as minhas suspeitas sobre a real motivação da chapa que utilizou o slogan POR UMA UnB SEM DONOS. São três os grandes problemas claramente postos na análise feita pelos integrantes da chapa derrotada e que ameaçam a Universidade de Brasília hoje.
1) Segundo a Chapa 2, pessoas como eu e mais 425 docentes que votaram na Chapa 1 são criminosas e imorais, já que somos " professores que participaram ativamente de atos ilícitos ou de duvidosa moralidade ". Não vale a pena comentar sobre este absurdo que deveria ser caso de justiça, mas fico imaginando o que seria da UnB ter uma reitoria ou um sindicato com pessoas que pensam desta forma sobre um número expressivo de docentes que trabalham em prol da instituição? Que clima institucional se pretende instalar com esse pressuposto? Como suportar conviver com pessoas que definem a sentença antes do julgamento? Como respeitar quem agride o tempo todo?
2) A ânsia pelo poder é que está por trás de tudo. A reitoria é o que a referida chapa para o nosso sindicato realmente almejava e não a defesa da categoria. A análise publicada por esta chapa deixa clara a "sinceridade" dos seus propósitos quando dizem " ou ganhamos a Reitoria ..., ou nos veremos obrigados a delegar inteiramente a responsabilidade de colocar nossa casa em ordem à Polícia Federal e à Justiça " ou quando afirmam que " vitória pela Reitoria somente poderia ser hoje garantida numa eleição paritária " (grifos adicionados). Esse é um discurso certamente definidor de lados e donos, contrário ao slogan.
3) A autonomia universitária, nesse momento, é pouco importante para esse grupo. A intervenção na UnB está sendo amplamente defendida de um modo individualista e em tom de ameaça como conseqüência da derrota. Dizem eles: " nos veremos obrigados a delegar inteiramente a responsabilidade de colocar nossa casa em ordem à Polícia Federal " e " mais interessante não ir à contramão e sim dar apoio irrestrito às investigações da Polícia ". O que é que se pretende com esta atitude inconsistente com relação à polícia, repudiando quando o problema é com os estudantes e apoiando a intervenção quando é com a reitoria? Nossos telefones e computadores já foram violados? Estranho esses colegas não terem nenhuma preocupação com essa nova realidade em uma universidade que prezava pela democracia. Uma vez a porta aberta e tudo devassado, você está exposto e da autonomia sobrará apenas saudades. Acredito que muitos que votaram na Chapa 1 dividem as preocupações mencionadas. Desse grande grupo há ainda pessoas, como eu, com motivos pessoais adicionais, que nem precisam ser mencionados, considerando-se a gravidade dos três motivos anteriores. Cada qual com seus óculos vota e julga a partir do que vê. O contexto político, entre outros fatores, muda nossos óculos. Cabe à sociedade definir suas regras para defender indivíduos e instituições vulneráveis. Os acontecimentos dos últimos meses não beneficiaram nenhum dos lados, até o momento. Vamos nos manter otimistas de que todo esse sofrimento era necessário para haver crescimento, mas sem perder o senso crítico. O apoio à Diretoria eleita pode significar nesse momento difícil que de fato a ADUnB seja dos professores e para os professores.

Elenice S. Hanna

Instituto de Psicologia
Departamento de Processos Psicológicos Básicos

2 comentários:

Anônimo disse...

Não me surpreendem as opiniões da Prof. Elenice, Lauro morista e timothista de carteirinha, como a maioria dos colegas da Psicologia...

Anônimo disse...

Como uma professora (Elenice Hanna) pode dizer que uma investigação realizada na UnB pela Polícia Federal caracteriza uma afronta à autonomia universitária?!

É o cúmulo do absurdo. A autonomia não dá a essa quadrilha que tomou a universidade o direito de fazer o que fizeram e ainda fazem em certos locais.

Eles preconizam a autonomia para "meter a mão".

Muitos professores e funcionários da UnB mereciam estar atrás das grades a muito tempo.

Prof. FT.