A repressão daqueles anos continua dentro de nós. Continua dentro dos departamentos, fechados à inovação, onde alguns colegas permanecem insensíveis aos movimentos sociais. Permanecem apegados ao modelo nobilárquico de decisões. São os detentores do saber absoluto. Do saber atomizado e intransigente.
PARIDADE é esculhambação, subversão, bagunça, politicagem, desvio de função, anomalia. è "coisa de esquerda" para tomar o poder na UnB. Assim pensam alguns colegas. Mas será isso mesmo?
Do que têm medo os professores?
Alguns, todos sabemos: o medo da transparência, da abertura da caixa de pandora das fundações e dos conchavos tácitos das trocas de favores. Esses docentes catapultaram seus ganhos em uma espécie de privatização do educar, ao vender cursos, captar recursos com projetos utilizando a mão-de-obra qualificada e os materiais da UnB, realizando consultorias dirigidas para as fundações e por aí vai. Todos nós sabemos os nomes, quem são, como fazem e como se relacionam com as esferas decisórias da UnB. Deixar esses professores agindo desta forma é imoral e ilegal. A ação deles somente é possivel pela falta de meios de escolha ampla de chefias e da falta de órgãos fiscalizadores. Somente agiam com o beneplácido da reitoria.
A grande maioria dos docentes, honestos e dedicados, possui uma acomodação ao que aí está. Possuem um desconforto frente ao novo, às demandas de uma nova postura, de um novo fazer científico.
A boa ciência é a inovação. A boa ciência é desafio.
Religião é dogmatismo. Os docentes são cientistas ou clérigos de uma nova religião?
A paridade, se calcada no sistema de normas e práticas fundadas pelos três ex-reitores nos últimos tempos, de fato é incompatível com um sistema de democracia participativa. A paridade deve vir acompanhada do compromisso com uma estatuinte (paritária) para a UnB.
O protagonismo estudantil resgatou a bandeira da democracia na UnB. 1968 está frutificando. Não há como negar o passado e os fundamentos da criação da UnB: aberta, democrática, de vanguarda, socialmene referenciada. 1968 é agora.
Texto do Correio Braziliense de domingo:
"O grande protagonista do ano de 1968 foi o movimento estudantil e isso não foi exclusividade do Brasil ou da França. Como definiu Carlos Fuentes na obra Em 68 (Editora Rocco): “68, para começo de conversa, é um desses anos-constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço”. Classificados como geração do desbunde, os jovens estudantes viraram universidades francesas dos pés à cabeça. No malote de reivindicações cabia sexo, drogas, filosofia, relações familiares, educação. Foi o ano em que eles decidiram passar de coadjuvantes a protagonistas sociais. Não à toa, uma das obras mais importantes dos anos 1960, do filósofo Guy Debord, chama-se A sociedade do espetáculo. O furacão que assolou o mundo, carregando a apatia política seguida da 2ª Guerra Mundial, passou por Paris, Alemanha, Itália, Inglaterra, Tóquio, Praga, México e até EUA, onde havia movimentos contra o racismo e a Guerra do Vietnã. Foi o “meiaoito” dos assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy, o desfacelamento da Primavera de Praga, o escândalo político de Nixon e o Ato Institucional nº 5 no Brasil. Por aqui, a passeata dos 100 mil foi o clímax de uma série de manifestações iniciadas a partir da morte do estudante Edson Luís, em março do mesmo ano, após a invasão do restaurante Calabouço. O coro ganhou força com o apoio da sociedade. “Intelectuais e artistas tiveram uma participação importante, porque grande parte deles tinha sido cassada, silenciada. Assim, a voz da manifestação política foi para os compositores, personagens como Chico Buarque, Edu Lobo e tantos outros”, explica o jornalista Zuenir Ventura. O estado de tensão nacional também irradiou para a capital federal. Em agosto de 1968, a Universidade de Brasília (UnB) foi tomada por policiais. Para o jornalista Jarbas Silva Marques, na época secretário de agitação e propaganda do Partido Comunista do Brasil, Brasília foi um dos pontos de maior repressão na época da ditadura, porém pouco aparece na história oficial. “Tivemos várias passeatas que saíam do Setor Comercial Sul, mas a gente só vê referências a Rio e São Paulo.” Em A rebelião dos estudantes, de Antônio de Pádua Gurgel, o jornalista Franklin Martins reitera a pouca notoriedade de Brasília naquele ano, diz que nenhum lugar sofreu pressão tão dura quanto as escolas do DF e arrisca um palpite: “Mesmo amordaçada, a UnB tinha como referência um projeto de vanguarda. No quadro de arcaísmo das demais universidades públicas brasileiras, era um peixe fora d’ água”.
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