O que tenho para dizer não necessita de muitas palavras. Acredito que muitos, em especial os que já são antigos na UnB, me entenderão.
Quando ingressei na nossa universidade, em junho de 1985, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o que poderíamos chamar de “o protocolo” dos funcionários da Universidade de Brasília, seu grau de humildade, obediência e respeito aos professores. Reinava, e acredito que continua sendo assim na maioria das unidades, uma etiqueta que poderia dizer-se rígida, apesar da cordialidade. Os funcionários da UnB eram e, em muitos casos, continuam a serem pessoas que aceitam a hierarquia das tarefas que fazem parte do dia a dia da instituição acadêmica, e ainda hoje se pode constatar a fidelidade a esse padrão.
Em 1986, quase recém chegada, tive a oportunidade de ter que tratar com Romilda Maccarini, então diretora de Convênios, sobre a liberação de fundos da Fundação Ford que tinham entrado na UnB para o Núcleo de Pesquisas Etnológicas do Depto. de Antropologia. Eu necessitava desses fundos para a realização de uma pesquisa de campo na fronteira entre Argentina, Chile e Bolívia, e a Romilda cooperou com a maior eficiência e demonstrando grande sentido do dever. Impressionou-me a forma em que encarnava sua missão de auxiliar o nosso trabalho. Sua disponibilidade e abnegação para atravessar em tempo a quantidade de barreiras burocráticas que se interpunham entre os fundos depositados e a finalidade que deveriam cumprir foram notáveis, e senti-me agradecida por poder contar com seu apoio e respeito à minha causa científica.
Vinte dois anos se passaram e agora me pergunto: o que aconteceu com a Romilda?
Certa estou de que com a praxe de obediência, disponibilidade e cortesia com que os funcionários trabalhavam à época, sempre se percebendo como peça importante do trabalho acadêmico, porém subordinados à demanda e até, poderíamos dizer, à tutela dos docentes, teria sido impossível que Romilda escolhera por sua própria conta e risco o caminho que escolheu. Não acredito que sem tutela, beneplácito ou influência de alguém o que aconteceu com ela ao longo das duas décadas que se seguiram tivesse acontecido. Em outras palavras, me parece inverossímil que Romilda tenha percorrido esse caminho só, sem a supervisão ou encobrimento de um de nós ou, mais exatamente, daqueles que nos gabinetes administrativos da universidade continuaram a encomendar e supervisar o seu trabalho.
Não estou com isto tentando livrar Romilda das suas responsabilidades. Não a estou isentando do peso de ter que responder perante todos nós e na Justiça se é verdadeiro ou não o que o Correio Braziliense de domingo informa sobre sua conduta na direção do CESPE, e, caso seja verdadeiro, de explicar à comunidade acadêmica e à Justiça a quantidade de abusos e discricionariedades cometidos na gestão institucional.
O que estou afirmando é que não podemos deixar passar a oportunidade de aproveitar o caso emblemático da Romilda para rever as práticas que levaram à deterioração geral da UnB e à corrupção de alguns que, como ela, se encontram em posição subordinada com relação à classe professoral dos dirigentes. Porque, inescapavelmente, o descalabro da Romilda não é outra coisa que um sintoma do descalabro de toda a instituição e, principalmente, dos seus responsáveis. Deixar passar essa oportunidade de entender o profundo vínculo da funcionária Romilda com seus superiores será aceitar que alguns sejam punidos para que outros fiquem impunes e livres para continuar com suas práticas lesivas aos interesses da instituição e da comunidade que dela depende. Não estou invocando a “obediência devida” como justificativa, mas insisto em que há uma hierarquia de responsabilidades.
Conhecendo a UnB, a praxe obediente e a consciência dependente de muitos entre nós, posso arriscar que sei, que efetivamente sei, que a “Romilda” personagem do Correio não é somente Romilda, que não pode ter agido sozinha. Isto é, posso dizer que sei que alguém corrompeu Romilda, e a levou pelos caminhos que ela foi, indicou a ela que era possível agir assim, praticar o que praticou impunemente. Fez a ela acreditar na própria onipotência, garantiu a ela proteção e segurança onde não havia nem poderia haver.
Por isso, em uma palavra, pergunto: quem deseducou Romilda? Tem que ter sido um docente: um de nós.
Rita Laura Segato
6 comentários:
Cara Prof. Rita Segato,
Concordo com suas colocações. A impressão que sempre me passou é que a Diretora Romilda ocupava o cargo para prestar serviço a "alguém", mais do que propriamente à instituição UnB. Durante as últimas reitorias vimos com freqüência servidores (não professores) ocupando cargos de expressão e grande responsabilidade. Não que eu ache que um servidor (não professor) não tenha competencia para tal, pode ter sim e muita. Mas me chamaram atenção alguns nomes. Nomes estes que ocupavam cargos chaves na UnB e principalmente nas fundações Fubra e Fepad. Inclusive quando terminava o mandato de diretoria em uma fundação pulavam imediatamente para um novo mandato de diretoria na outra fundação. Essas pessoas sempre me passaram a impressão de estarem a serviço de um esquema maior. Será que é mais fácil manipular um servidor do que um professor? Acho que talvez sim.
Esse nomes serviram muito bem a seus "patrôes" e espero que quando forem pegos pela justiça não sejam idiotas de responderem por tudo sozinhos e acabem dizendo quem os comandava, na alta cúpula da UnB.
Prof. FT.
Pois é, quem diría. Digo mais,o contrato estabelecido entre FUB e INSS, com a participação do Cespe e da Finatec, foi utilizado, unicamente, com o fim de alocar mão-de-obra terceirizada no âmbito do INSS para execução de atividades próprias de servidores públicos, sem um controle efetivo sobre a forma de seleção desse pessoal ou mesmo sobre a compatibilidade dos valores pagos à FUB com os preços que seriam obtidos no processo de licitação de empresas fornecedoras de mão-de-obra terceirizada para execução de atividade-meio. Os funcionários alocados sob a bandeira Finatec, em sua maiora, entraram com ação trabalhista contra a Finatec. O advogado da Finatec ganhou uma fortuna na administração e resolução desses processos. Quem foi: nada menos que o marido da Romilda, Dr. André.
Caros colegas,
Para se ter uma transparência total e plena é necessário, na minha opinião, se fechar o CESPE e as Fundações ou Privatizá -las.Com isso evita se que ocorra fatos citados na midia largamente.
A pergunta é:Consegue se viver sem os recursos oriundos dessas instituições?
O que se tem hoje é meio termo ,com tendência a ficar como esta ou como era.Pois me parece que tudo se confunde hj.
Prof da FS
Moderação;Censura?
Para botar cartinha bonita não tinha isso.
O que é isso medo de ouvir opiniões contrárias?
Pessoal a ditadura acabou....
Marcatismo, idem.
Mas a censura persiste....Aqui...
Compatível com o preconceito daqui..
Professora Segato:
Eu diria Romilda e Eles e não "Romilda e Nós".O próprio Ministério Público Federal vem ajuizando desde 2005 ações de Improbridade, Peculato onde aparecem nomes como: Lauro Morhy, Finatec, Antônio Manoel Henriques, Nelso Martin. Temos explícito quem foram os prováveis catalizadores que desvirtuaram a trajetória da funcionária gananciosa. Por que generalizar? São ELES! Suponham que devem ser hoje todos ricos. Pobre de NÓS, professora.
Caro colega, já ouviu falar na acusação do MP, DO HERÓDES DO HRAN?
Lembra do Heródes, creio, que matou as crianças, época do nascimento de jesus?
Durante anos esse profissional enfrentou as bravatas do 4º Poder e como sofreu....Após anos provou inocência.
Cuidado colega amanhã pode ser um de nós.
Acusar uma pessoa de enriquecimento ilícito é acusação grave, igual a do Heródes do HRAN.
Prof da FS.
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