quarta-feira, 8 de outubro de 2008

CARTA ABERTA AO BRADESCO


Senhores Diretores do Bradesco,

Gostaria de saber se os senhores aceitariam
pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência
da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto
de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer
outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.

Funcionaria assim: todo mês os senhores, e
todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a
manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira,
farmácia etc). Uma taxa que não garantiria nenhum direito
extraordinário ao pagante.

Existente apenas para enriquecer os
proprietários sob a alegação de que serviria para
manter um serviço de alta qualidade.

Por qualquer produto adquirido (um pãozinho,
um remédio, uns litros de combustível etc) o usuário
pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um
pouquinho acima. Que tal?

Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que
os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade. Minha certeza deriva de um raciocínio simples.
Vamos imaginar a seguinte cena: eu vou à padaria para
comprar um pãozinho.

O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o
pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e
qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de
acesso ao pãozinho', outra 'taxa por guardar pão quentinho' e
ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita
cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação que talvez os
padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu Banco.

Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto
de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de
mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de
mercado pelo pãozinho.

Entretanto, diferentemente do padeiro, os
senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto
que adquiri.

Para ter acesso ao produto de seu negócio, os
senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de crédito' -
equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao
pãozinho', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam
a pagar.

Não satisfeitos, para ter acesso ao
pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta
corrente em seu Banco. Para que isso fosse possível, os senhores me
cobraram uma 'taxa de abertura de conta'.

Como só é possível fazer negócios com os
senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura
de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da
padaria', pois, só é possível fazer negócios com o
padeiro depois de abrir a padaria.

Antigamente, os empréstimos bancários eram
popularmente conhecidos como papagaios'. Para liberar o 'papagaio', alguns gerentes
inescrupulosos cobravam um 'por fora', que era devidamente
embolsado.

Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se
antecipar aos gerentes inescrupulosos.
Agora ao invés de um 'por fora' temos muitos
'por dentro'.

- Tirei um extrato de minha conta - um único
extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$
5,00. - Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de
R$ 7,90 'para a manutenção da conta' semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua'.

A surpresa não acabou:- descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada
trimestre - uma taxa para manter um limite especial que
não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou
pagar os juros (preços) mais altos do mundo - semelhante
àquela 'taxa por guardar o pão quentinho'.

Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil
funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde
sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer
movimentação que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza,
gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar
o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu
Banco. Por favor, me esclareçam uma dúvida: até
agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes,
talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e
profissionalmente, que um serviço bancário é muito
diferente de uma padaria.

Que sua responsabilidade é muito grande, que
existem inúmeras exigências governamentais, que os
riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o
que estão cobrando está devidamente coberto por lei,
regulamentado e autorizado pelo Banco
Central.

Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e
garantias legais que protegem seu negócio de todo e
qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não
conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam
muito mais elevados.

Sei que são legais. Mas, também sei que
são imorais. Por mais que estejam garantidas em lei, tais taxas
são uma imoralidade. É como diz o velho ditado: a esperança é a
última que morre!
Anônimo

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