sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A OCUPAÇÃO, A TRANSFORMAÇÃO E A ELEIÇÃO

"O destino de sete homens após uma invasão

Quarenta anos depois da pior ocupação da Universidade de Brasília pelos militares, o Correio resgata a história dos estudantes considerados subversivos que teriam motivado a investida

Ana Beatriz Magno
Da equipe do Correio
Arquivo UnB - 29/8/68
Militares no câmpus em 29 de agosto de 1968: carro virado para incitar o confronto com alunos

Arquivo UnB - 29/8/68
Cinqüenta estudantes acabaram presos na invasão de agosto de 1968

A semana começou com a estréia do faroeste A volta dos sete homens no Cine Brasília e terminou com uma caçada sangrenta a sete moços que não voltaram para casa naquela quinta-feira, 29 de agosto de 1968.

O bangue-bangue de Burt Kennedy contava a saga de um grupo de mexicanos pelos Estados Unidos e era a continuação do famoso Sete homens e um destino, estrelado por Charles Bronson.

Como no filme, os sete estudantes caçados pelos corredores da Universidade de Brasília há exatamente 40 anos tinham um único destino: enfrentar a ditadura. Às 10h, cerca de 50 carros da polícia fecharam as ruas que davam acesso ao câmpus.

Os policiais chegaram com metralhadoras, mosquetões e pistolas. Espalharam medo e bombas de gás lacrimogêneo. Invadiram salas de aula, quebraram laboratórios, interromperam provas e entraram para a História como os responsáveis pela pior das oito invasões sofridas pela UnB durante o regime militar.

Os militares alegavam que estavam cumprindo mandado de prisão preventiva contra sete alunos subversivos. Prenderam 500 moças e rapazes numa quadra de esportes, carregaram 50 estudantes para a delegacia, atiraram na cabeça de um jovem.

Mauro Burlamaqui, José Prates, Paulo Sérgio Cassis, Paulo Speller, Samuel Babah, Lenine Bueno Monteiro e Honestino Guimarães eram os procurados. Seis conseguiram escapar. Honestino esperneou, berrou, teve os óculos e o braço quebrados, mas terminou no camburão.

“Hoje é o nosso dia”, gritava o major do Exército, José Leopoldino Silva, responsável pela prisão de Honestino, segundo relato de Antonio de Pádua Gurgel, autor do livro A rebelião dos estudantes, publicado pela editora Revan.

O filho de dona Maria Rosa tinha 21 anos de idade, passara no vestibular em primeiro lugar, cursava geologia e presidia a Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub), instituição correspondente ao atual Diretório Central dos Estudantes.

Honestino era militante da chamada Ação Popular (AP), corrente política de inspiração católica. Sua prisão durou pouco. Em outubro ele foi solto e entrou de vez na clandestinidade. Em 1973, voltou para a cadeia e nunca mais retornou para as braços de sua mãe. Seu nome está na lista dos desaparecidos políticos.

Quatro décadas depois da invasão da UnB, o Correio Braziliense rastreou o paradeiro dos sete brasileiros que, em 29 de agosto de 1968, mostraram para o Brasil que a juventude de Brasília não se curvaria à ditadura. Dois deles morreram. Um mudou de país. Três seguem na militância política.
Editor: Samanta Sallum // samanta.sallum@correioweb.com.br
Subeditores: Ana Paixão, Roberto Fonseca, Valéria Velasco
e-mail: cidades@correioweb.com.br
Tels. 3214-1180 • 3214-1181"

Vale a pena ler a reportagem inteira que está publicada na versão impressa do Correio Braziliense de hoje. Uma jóia!

A eleição para reitor que se aproxima tem um grande diferencial. Alguns se omitiram dessa luta histórica; ou melhor dizendo, ignoraram do drama heróico dos indivíduos e das famílias que vivenciaram a morte dos seus.

Hoje alguns se regozijam como grandes feitores da academia, esquecendo que foi graças à luta destes heróis, com seus espiritos contestadores, inspiradores da incessante luta republicana, que suas vidas acadêmicas puderam ter impulso, receberam bolsas de estudo no exterior e de permitir a ocupação da academia por cientistas, não por testas-de-ferro políticos. Utilizam a UnB como se eles fossem o princípio de tudo. O que passou, a luta dos estudantes e a vergonha das atitudes de maus reitores, são pontos que alguns reitoráveis procuram desesperadamente esquecer e se desvincular.


Outros continuam e estão aí na luta para concretizar o sonho de democracia e liberdade na UnB. Cumprir o destino libertário e libertador da UnB. A escolha da comunidade não levará em conta as conveniências, mas o destino único da UnB como Universidade popular, pública, gratuita, transformadora e de qualidade.

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