sábado, 9 de agosto de 2008

IMAGÉTICA


A abertura oficial das Olimpíadas 2008 na China foi um espetáculo pictórico e eletrônico jamais visto nesse planeta. Quem assistiu pode ficar extasiado, estupefato, dominado diante da beleza plástica, das cores marcantes e diversas e da delicadeza de algumas passagens.

Alguns milhares de teses e milhões de comentários serão publicados em quase todos os idiomas da Terra. Este comentário se insere nessa última categoria ao interpretar uma cena obscurecida pela grandiosidade do resto do espetáculo.

A China emerge definitivamente como potência e pode se vaticinar que, a incerteza da hegemonia de poder mundial entre o 11/9 e o 08/08/08 está definitivamente preenchida pela nova potência mundial. O espetáculo custou 41 bilhões de dólares. Uma soma que não deverá ser saldada pelo retorno imediato do evento. Este foi o custo de termos uma marca indelével nas mentes ocidentais da China diversa, jovem, determinada e forte.

Para se contrapor ao espetáculo, chama a atenção uma cena que demonstra como a China pretende manter a sua intransigência à desunião das etnias, amalgamar o mosaico de culturas que a compõe e ao desafio ao regime que lá vige. A condução da bandeira chinesa e o seu hasteamento foram conduzidos por oito (o oito mítico) militares empertigados, em cadência rígida, homogênea e autômata. A beleza da marcha militar está na cadência e na rigidez absoluta dos seus soldados-dançarinos. A marcha-dança é angulosa, sem concessões a arcos, hipérboles ou elipses. A abertura de uma olimpíada sempre teve como mote a paz entre os povos, embora o pano de fundo seja a disputa entre potencias e a autopropaganda de regimes políticos.

A abertura das Olimpíadas deveria ter um caráter estritamente pacífico, de união e tolerância entre os povos. Esse espírito contrasta com qualquer referência militar. A cena dos militares conduzindo e hasteando a bandeira nacional chinesa, emblematicamente contaminou o espírito das olimpíadas. A China avisa ao mundo que os jogos entre países (esportivos, comerciais, etc) e o entrosamento entre os povos somente poderão ser possíveis com a guarda da nação (a bandeira) por uma força militar rígida, homogênea e inflexível. Assim avisa a China ao mundo: não é possível a guarda exclusiva do nacionalismo chinês sem a força militar. Essa força militar estará presente ostensivamente em todos os momentos de negociação, confronto e disputas. Essa mensagem parece ser também dirigida ao consumo interno. Esse não é um bom sinal aos povos que querem se autodeterminar e que desejam mais justiça nas relações internacionais.

Esta seção é um exercício livre e libertador de interpretar as imagens do mundo. Não se propõe a ser A Verdade.

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