segunda-feira, 7 de julho de 2008

Paridade - texto publicado no Correio Braziliense, hoje, 7 de julho

Publicado no Caderno de Cidades
Autor: Prof. Vanner Boere


Paridade na UnB: um pastel de vento

O Conselho Universitário (Consuni) da Universidade de Brasília (UnB) definiu por 27 votos a favor, 24 contra e cinco abstenções, em 27 de junho, como serão distribuídos os votos entre os três segmentos da UnB (discentes, docentes e funcionários técnico-administrativos) nas eleições para reitor. O peso de cada segmento é de 1/3, que será repartido pelo total dos votos daquele segmento. Isso significa que cada grupo terá a sua proporção, o seu terço, repartido pelo total de integrantes. Na prática, considerando que o denominador é o número total de votantes de cada segmento (em números aproximados), cada voto estudantil equivale a 1/30.000, o voto dos funcionários equivale a 1/2.500 e o dos professores a 1/1.500. A opinião de cada professor vale 20 vezes mais em relação ao peso da opinião dos estudantes.

Essa fórmula não é “paridade”. Paridade, por definição, é qualidade de par, de igual. O sistema de repartição do peso de cada segmento se chama, na prática, proporcionalidade. Assemelha-se mais ou menos ao que acontecia no sistema anterior à “paridade”. Desmotivado pelo minguado peso, o segmento dos estudantes não representou nem 0,15% do total de votantes na eleição para o reitor que se demitiu há poucos meses por suspeitas de má gestão. Com a fórmula aprovada, para que a paridade valesse como equilíbrio na representação, todos os integrantes dos três segmentos da UnB, sem exceção, deveriam votar. Considerando o curto tempo de debate para as eleições e a crônica desmoralização estudantil imposta por colegiados docentes esmagadoramente hegemônicos, é quase impossível mobilizar os 30 mil alunos para a votação, resultando em uma grave subrepresentação discente na escolha para reitor.

A impressão geral que se tem entre os estudantes, os servidores e parte dos docentes é que houve uma manobra ilusionista para a proporcionalidade ser revestida de “paridade”. Foi uma torta sem recheio, um pastel de vento. A “paridade” com a fórmula proposta pela comissão paritária escolhida pelo Consuni foi enviada aos departamentos, faculdades e institutos para ser debatida. O que não ocorreu de todo, dentro da formalidade que exige uma decisão tão importante para os rumos da UnB.

Não foi surpresa a votação pela proporcionalidade. A maior parte dos conselheiros docentes do Consuni foi eleita durante a gestão do ex-reitor. Uma gestão que se notabilizou por denúncias cotidianas de má aplicação de recursos públicos, clientelismo e concentração de poder. Uma das estratégias mais perversas da administração passada foi deslegitimar os conselhos e colegiados, ao fomentar o apoio aos seus subalternos prediletos e servis. A decisão do Consuni, majoritariamente composto por docentes que não se opunham frontalmente aos desmandos e à fuzarca administrativa que se instalou na UnB, foi lastimável. Surpreende apenas a insensibilidade de um grupo de conselheiros às reivindicações de um segmento (estudantes), a quem deveriam servir com gentileza e desprendimento.

A proporcionalidade votada no Consuni foi uma manobra para blindar o valhacouto de uma elite que se nega a fazer concessões ou aceitar a existência política de dois segmentos que também possuem discernimento político, decidem e que dão organicidade à UnB.

Os números demonstram que a votação foi apertada e longe de um consenso construído no diálogo franco e no respeito às reivindicações dos estudantes, dos servidores técnico-administrativos e grande parte dos docentes. Há claramente um conflito em curso na UnB. Uma espécie de oligarquia docente quer dispor de poder absoluto nas decisões administrativas e, particularmente, na manipulação de verbas dento da instituição.

A proporcionalidade votada visa a poupar energia nas decisões administrativas para um grupo que se empenha em repetir, perpetuar e propagar as políticas de privatização do viver, do aprender e do ensinar públicos. A manobra abriu espaço para que continue a vantagem esmagadora dos docentes em relação aos alunos, categorias hoje em rota de colisão. Uma nova trombada entre o transatlântico docente capitaneado pelos teimosos timoneiros embevecidos pelo poder e o iceberg do protagonismo estudantil pode acarretar um desastre institucional. Com uma diferença: talvez não haja escaleres para todos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vanner
parabens pelo seu artigo-cidadão, publicado no Correio !

Nota 10 para ele.

MHL