sexta-feira, 21 de março de 2008

Por um novo tempo na UnB (uma resposta)

Prezados,
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Estamos postando uma RESPOSTA a um texto da professora Dóris Faria, publicado hoje no Correio Braziliense, e reproduzido no blog cienciabrasil (veja aqui o texto).
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E não deixe de ler nosso Manifesto em Defesa da UnB.
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Por um novo tempo na UnB
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por Michelangelo Trigueiro
Coordenador da pós-graduação em sociologia da UnB

Quero comentar o texto da Prof.ª Dóris, publicado no blog Ciênciabrasil.

Para começar, devo dizer que estou impressionado com sua alquimia retórica. Primeiro, abusa, indevidamente, de metáforas, como “fractal” e “base genética” de criação da UnB, que não têm qualquer função em termos de fundamentação do que apresenta ao longo de sua discussão. Além disso, usa de números, indiscriminadamente, sem que sigam uma trilha de argumentação sólida. Apresenta-se num campo discursivo ausente, em que o mundo descrito por ela, de “interesses”, “ideologias” e “tendências” é apenas o mundo dos outros, dos que conspiram, que tramam, que querem denegrir, que ambicionam, enfim, um mundo menor, pequeno, de pequenas causas, comezinhas, triviais. Seu próprio mundo, ao contrário, se apresenta como o da grande construção, do grande e promissor cenário, da mudança de paradigma, em suma, da verdade e da ética, do comprometimento com o social e com as massas desassistidas, alijadas historicamente. É um mundo, o seu, apenas povoado por nobres gestos, compromissos éticos, desinteresse, devoção às causas justas.
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O mundo dos outros é o dos elitistas, perdedores, vaidosos, egoístas, entreguistas, traidores e por aí vai. É incrível a ficção criada pela Professora Dóris, a respeito de si mesma e de seu próprio mundo. Por isso, a brincadeira neste blog, um “mundo maravilhoso”, que só existe na cabeça e na vontade da citada autora. Um mundo em negativo. Interesse só com os outros, ideologias só com os outros, vilania só com os outros... Esse é o discurso que a Prof.ª Dóris quer sugerir. Mas não resiste aos fatos. Por mais nobres e justos que sejam seus anseios (e tenho muitas razões para pensar o contrário), seu mundo não é diferente do nosso. É claro que em seu mundo e de seus aliados também há ideologias, interesses e ambições. É óbvio que são interesses e práticas políticas diferentes dos nossos. Refiro-me aos signatários do manifesto que pede a saída do reitor e a paridade nas eleições. Diferentemente dela, entendo que ambos os mundos são repletos de ideologias, interesses, alianças e mesmo retórica.
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O que proponho é, minimamente, uma abordagem mais simétrica. Ou seja, que se use dos mesmos critérios para construir o espaço de interlocução. Quanto ao mérito presumível do que tem discutido, tenho a dizer, inicialmente, que quando lhe escutei esbravejar na assembléia dos professores, e com ar circunspecto e grave ressaltar em uma entrevista “mudar...claro que a UnB precisa mudar...todas as instituições mudam...há muitas coisas para melhorar...mas mudar dentro da normalidade...não pode ser desse modo...com rupturas...”, não pude ficar sem questionar. Como assim, sem rupturas, dito justamente por alguém com um passado de lutas? A esse respeito, é preciso não esquecer que o Sr. Azevedo somente saiu da reitoria da UnB com muita pressão (de estudantes, sobretudo), num processo (para ele) muito “traumático”, com ruptura, é claro, da “ordem vigente”. E que a instauração do atual processo eleitoral em universidades públicas também se deu mediante ruptura na ordem vigente. Era, anteriormente, sistema paritário. Rupturas, como todos sabemos, produziram democracias, ordens republicanas, participação social. Por que razão a UnB estaria, agora, justo agora, em dramático momento, livre de rupturas?
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Que contexto é este que exclui rupturas para a vida político-institucional da UnB?
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A Universidade de Brasília, em que pese sua brilhante história, vive um de seus piores momentos, em termos de imagem pública. Nesse ponto, discordo totalmente do diagnóstico apresentado pela Dóris, com todos aqueles números.
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A realidade é bem outra: vagas foram abertas indiscriminadamente, sem um planejamento sério e bem consolidado, sem a garantia mínima de infra-estrutura, sem garantia de um projeto de qualidade minimamente defensável, que não estivesse apenas indicado em documentos e textos produzidos para “sensibilizar”. Não houve sequer uma demonstração prática, por parte da administração superior da UnB, de que as condições ATUAIS do campus do plano piloto – refiro-me às salas de aula, laboratórios, banheiros, instalações elétricas, equipamentos e todo um conjunto de condições de segurança, há muito reclamadas – seriam melhoradas. E continuam péssimas. Assim como as dos novos campi. Ou seja, abrindo vagas, sem responsabilidade, mais parecendo a farra da Encol, que resultou no que todos nós sabemos. Foram expandindo, expandindo, expandindo e ... explodiram, infelizmente, levando junto milhares de sonhos de casa própria. Minha preocupação, Dóris, não é com a expansão de vagas no ensino superior. Esta precisa ocorrer, mas dentro de um adequado planejamento, garantidas as condições básicas, sempre mantida a preocupação com a qualidade, em ações práticas voltadas a esse objetivo. Não pode ser apenas para produzir estatísticas, como você o faz. Estatística, por si só, não produz qualidade acadêmica. Aliás, temos perdido muito em vários indicadores da pós-graduação. Isso é evidente. São fatos, e não invenções de uns poucos interessados em eleições. Você sabe disso.
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Ademais, há visões diferenciadas a respeito de qual seja a missão da UnB, no que concerne à pesquisa, ao ensino e à extensão. Entendo que muito das iniciativas que a atual administração vem desenvolvendo em termos de expansão de vagas deveria caber à Universidade do Distrito Federal, sob a responsabilidade do Governo Distrital. Mesmo que minha posição seja minoritária, a esse respeito, precisaríamos ter aprofundado esse debate, nos conselhos superiores. E não feito “a toque de caixa”, no ritmo em que foram. Nosso compromisso não pode ser apenas com uma gestão, mas com o futuro da instituição, sua vocação e seu papel no Distrito Federal e no país. Não desmereça esse meu discurso, tentando me desqualificar. Essa tem sido sua prática e é nefasta para a cultura universitária. Muitas vezes, seu discurso, com ares populistas, e de fácil apelo, é muito próximo daqueles levado adiante em ambientes antidemocráticos, no nazismo, no fascismo e em outros sistemas, em que o que contava era a propaganda e a desqualificação do interlocutor. Vamos discutir objetivamente, e sem esse papo de eleições. Elas estão longe e qualquer um tem o direito de postular, legitimamente.
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Aliás, seríamos nós meros aliciadores de estudantes, como Sócrates, obrigados a tomar sicuta? A história já não teria nos ensinado o bastante, em meio a tantos glutões? O que dizer sobre o que menciona a respeito da autonomia dos movimentos, das inúmeras ligações telefônicas que eram feitas a estudantes e a suas lideranças, questionando-os sobre eventual apoio, na última campanha, a uma chapa que não era da simpatia da reitoria? Eles me contavam das pressões. E ainda hoje existem. Há muitos e muitos colegas e técnicos com medo de falar abertamente. Isso é democracia? Isso é respeito à autonomia dos movimentos? E o que dizer da quantidade enorme de dinheiro que rolou na última campanha, favorecendo o grupo vencedor, e ainda alimentando o mesmo esquema? Não são denúncias vagas apresentadas na imprensa. Temos o nosso próprio critério de avaliação. Não há um mundo que conspira contra o seu projeto e o do reitor. Quanto às condições de nossa democracia interna, já não vêm sendo respeitadas, desde as últimas eleições, pelo menos. A aparência foi democrática; a realidade foi outra. Dinheiro contou, não idéias; poder de aliciamento e constrangimento foram usados intensivamente, para vencer e criar essa mística de apoio maciço.
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Enfim, gostaria de lhe perguntar: quais os fundamentos teóricos ou conceituais para manter as eleições nos níveis de proporção em que estão? Se o seu projeto é inclusivo, por que não incluir massas de estudantes, nas eleições para reitor? Não estaremos votando sobre um currículo, sua estrutura, sobre questões de fundo. Estaremos votando sobre quem vai nos dirigir. O modo atual de eleição, que foi um golpe para estudantes e funcionários, apenas cria a mística democrática, sob o disfarce da autoridade acadêmica. Muito do tempo gasto pela administração superior da UnB, atualmente, tem sido para se defender de sérias denúncias da mídia, feitas por pessoas corretas, preocupadas com a apropriação privada dos recursos públicos, que o sistema eleitoral atual alimenta e reforça. Por esta razão sou a favor da paridade.
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Quero trabalhar para mudar essa concentração de poder, mal utilizada. Entendo que é injusto que 30 mil estudantes fiquem comprimidos em meros 15% dos votos. O que acha a esse respeito? É claro que mexer nas regras significa mexer no modo como o poder que vocês consolidaram foi estabelecido. Mas, se vivêssemos em outro país, em que as regras institucionais fossem menos passíveis de manipulação e apropriação privada (na linha do que Raimundo Faoro chamara o estado patrimonialista), talvez o encaminhamento do debate fosse noutro sentido. Assim, proponho um arejamento substancial do poder político-instucional na UnB. Uma completa renovação ética, em sua prática, e um aprimoramento dos mecanismos democráticos e do mérito acadêmico, em que o dinheiro não seja o critério decisivo, e o medo seja definitivamente banido de nosso meio. Aí, sim, poderemos falar na verdadeira revitalização do projeto original de Darcy Ribeiro. O resto parece-me bravata, retórica vazia. E que o Poder público continue sua heróica batalha em prol da defesa de nossa instituição.
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Post produzido por Michelangelo Trigueiro

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